Assim como as grandes metrópoles, a nossa cidade possui a população mais empobrecida vivendo às margens da cidade, em nosso caso podemos citar a Vila da Paz como exemplo. Na Vila da Paz encontramos uma diversidade enorme de pessoas, com sonhos diferentes, com valores diferentes, e principalmente com chances na vida diferentes em relação à boa parte do restante da cidade. O leitor pode se perguntar: “Qual seria esta chance diferente?”.
Muitos acreditam que há uma falta de vontade nas pessoas em conseguir uma vida melhor, o problema é que a situação não é tão simples. Tenho certeza que algumas pessoas, na verdade muitas, nunca entraram em uma casa de uma pessoa realmente pobre, nem mesmo estão cientes da cultura em que estas estão inseridas. * O leitor pode analisar que um emprego no comércio de nossa cidade seria mais facilmente ocupado por algum morador de outra região da cidade em detrimento de um morador da Vila da Paz, este é um paradigma antigo que existe aqui.
Somos acostumados a pensar que a população que lá vive se difere do restante da sociedade por serem mais “agressivos”, porém se faz valer aqui uma fala do vereador Roberto em uma sessão da câmara deste ano ao se referir a população da Vila da Paz: “Lá não vive bicho não!”; e é desta forma que devemos pensar.
Mudar uma cultura não é uma tarefa simples, nem uma tarefa que é feita de um dia para outro. Dificilmente acontece sem um apoio, ocorre para a pior quando não há este apoio. Onde estaria esta melhora? Há algum tempo postei um texto sobre a falta de projetos para a melhoria da periferia de nossa cidade, não digo apenas construções, mas projetos que ajudem a melhorar a situação social dessas regiões.
A cada 2 anos os moradores da Vila da Paz recebem a chance de conseguir alguns benefícios em conseqüência das eleições. Muitos trocam seu voto por algo que lhes trará benefícios imediatos, porém estes benefícios serão muito pequenos em comparação com os efeitos maléficos futuros. Muitos ainda acabam por ter um sentimento de amor extremo por alguns políticos, porém estes não trazem nada, ou quase nada, de melhora para a população da região.
Há meses houve reclamações sobre o lixo e o esgoto a céu aberto na Vila. Moro em uma parte mais afastada do local, porém não se pode cozinhar sem ter a massiva presença das moscas, fico pensando em como deve ser a vida das pessoas que lá vivem, já que são vizinhas do lixão. Também encontramos morros de terra espalhados pelas ruas, em conseqüência das ações feitas pela Sanepar.
Se analisarmos quanto à integração social, muitas vezes em nossa cidade há projetos que visam uma melhoria na convivência social, como os que ocorrem na Casa da Cultura. Porém estes projetos se compõem em grande parte com participação de jovens com melhores condições de vida, poucos são os integrantes das famílias carentes da periferia. Logicamente que deve haver participação da população mais abastada, porém não na quase totalidade.
Nem mesmo há mais atividades esportivas no famoso Buracanã. Ainda que não tenha ido a muitas, há alguns anos gostava de participar de “peladas” naquele campo. Normalmente era necessário esperar por um longo período para poder jogar, pois o número de “peladeiros” era grande. Se nem este tipo de atividade não existe mais, o que dirá dos antigos jogos que havia lá, onde juntava-se uma boa parte da população. Deveria voltar a ter este tipo de atividade, e uma melhora do campo, para poder haver projetos de aulas de futebol lá. Não pense o leitor que estou fazendo uma atitude discriminatória, pensando que acho que devemos deixar as crianças separadas, pois para mim o correto seria levar a parte central da cidade para lá também, mostrando o quanto a Vila é um local que deve ser respeitado, e a importância da verdadeira integração social.
A concepção que temos em relação à Vila da Paz nunca irá mudar se não tentarmos ajudar. Muitos acreditam que o correto é que eles fiquem “lá pra baixo”, sem subir ao centro para nos encher o saco. Este tipo de pensamento é um dos fatores que fazem com que a violência reine em nossa cidade. Vamos ajudar e respeitar esta parte da população sofrida e trabalhadora de nossa cidade. Ainda acredito que muitos se apropriaram de uma cultura que não significa completamente o ambiente em que estão inseridos**, porém temos a nossa participação nisto. Vamos brigar por uma sociedade mais harmoniosa, integrada, e quem sabe, realmente a Vila da Paz se torne a vila da paz.
*Há um antigo post onde discuto os problemas decorrentes a cultura dos habitantes da periferia de nossa cidade.
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