SUTÍS DESCASOS

PARTE I

          

           No dia 31 de março de 2011, duas matérias do Jornal Hoje, transmitido pela Rede Globo a partir das 13:20 horas, me chamaram a atenção. Logo consegui notar mais um ponto da alienação da população brasileira, e fazer uma pequena relação com nossa cidade. O desperdício de dinheiro publico é algo que me incomoda há muito tempo, e ali pude observar em escala nacional. Porem a parte II deste post irá debater sobre o mesmo tema quanto a nossa cidade.

            Na primeira reportagem, das quais me refiro, foi apresentado o funeral de nosso ex vice-presidente José Alencar. Logo depois, na segunda reportagem, foi exibida a situação de alguns hospitais brasileiros.

            Ao passar a matéria de José Alencar, ficou claro a tentativa de transformá-lo em um herói nacional, até foi exibida uma grande quantidade de cidadãos simples chorando e comovidos com a morte do “herói”. Sinceramente acho muito mais válido observar outro ponto do que foi apresentado: os gastos com dinheiro público, ou melhor, o descaso com dinheiro público. Todas as honrarias prestadas a José Alencar foram pagas com dinheiro público, ou seja, com nosso dinheiro.

            Esse dinheiro seria muito mais proveitoso caso utilizado para gastos com saúde publica, como os hospitais apresentados na segunda reportagem. Nesta reportagem foi apresentada a falta de recursos para hospitais públicos, onde a população brasileira morre “empilhada” nos corredores desses hospitais.

            Agora chamo a atenção do leitor para um fato importante, José Alencar foi elevado a nível de herói, segundo a mídia que investiu fortemente nisso por sua luta pela vida. Como foi linda a sua batalha e como foi triste a sua morte, qualquer cidadão brasileiro ficou extremamente comovido com a história de José Alencar. Pena ele não ter tido a chance de se tratar em um hospital público quem sabe não estaria ele vivo ainda. O Sírio Libanês não oferece um bom atendimento, deve ter sido a causa da morte desse honorável homem. Ainda bem que o elevaram a nível de herói e utilizaram dinheiro publico para isso. (Espero que o leitor entenda que estou sendo sarcástico).

            Não sei o leitor, porém me sinto extremamente perplexo com o descaso ocorrido com nosso dinheiro, usado para um pomposo funeral. Me sinto triste por usá-lo para transformar em herói Alencar, que sempre esteve em nítida vantagem em relação a maioria dos portadores de câncer do Brasil, estes últimos obrigados a se tratarem em hospitais não tão evoluídos. Sinto uma comoção muito maior em acompanhar a batalha da Lena, tia do Biguzinho, pela vida, ela sim é alguém que realmente merece nosso respeito e admiração.

            Quero deixar claro que sou ciente de que os gastos com o funeral de José Alencar não acabaria com os problemas de todos os hospitais brasileiros, porém esse desperdício não ocorreu apenas nesse funeral, o que tento expor é apenas uma pequena parte de um todo, que somado logicamente poderia melhorar em muito a situação dos hospitais brasileiros. Em minha visão esse funeral foi apenas uma simbolo do descaso com o nosso dinheiro, assim como um simbolo da falta de entendimento da população, que a partir de agora vê nele um grandioso brasileiro, um herói que lutou pela vida.

 PARTE II

 

            Como dito na primeira parte, esse texto se refere a problemas de desperdício de dinheiro público em nosso município. Podemos ver em escala nacional os problemas quanto a essa queima de dinheiro, porém acontece similares “embaixo de nosso nariz”. A foto acima demonstra bem o que estou dizendo, por mais que o tipo de debate tenha mudado, a essência continua sendo a mesma: o descaso com o dinheiro público.

            Muitos adoraram a nova sinalização de nosso município, por mais que algumas placas estão com problemas gráficos e outras se referem a lugares não existentes(Prainha Municipal). Em geral a cidade de São João do Caiuá está bem sinalizada.

            O que me chamou a atenção foi o fato de ocorrer vários casos como o mostrado na foto, onde em um mesmo lugar se encontra duas placas com a mesma função. Isso simboliza o descaso com nosso dinheiro, e pior, isso está presente em praticamente toda a cidade, porém poucos fizeram essa relação de descaso.

            Vendo essa situação, me senti no direito de conversar com um vereador (não é intenção desse blog fazer criticas pessoais, assim não citarei nomes) e perguntar sobre o motivo de algumas esquinas possuírem duas placas com a mesma finalidade. Sua resposta foi de que  houve um acordo com o DETRAN, e esse órgão apenas faz esse trabalho de sinalização caso coloque placas em toda a cidade. Ou seja, as placas que existiam, foram condenadas a serem retiradas.

            Um fato interessante foi que o mesmo vereador disse que as placas antes existentes foram colocadas pelo próprio município, e que só visava as principais esquinas, esqueceu ele o fato de a esquina perigosa da APAE não ter sido incluída nesse processo, conseguindo a placa de preferencial apenas com essa nova sinalização.

            Algo que me chamou atenção foi o fato de esse “emplacamento” pelo DETRAN não ter sido feito antes que o dinheiro público fosse desperdiçado, acredito que o valor de cada placa  desperdiçada não tenha sido tão baixo. È importante observarmos o que estão fazendo com o nosso dinheiro, não digo apenas em nossa cidade, mas também em escala nacional. Os rendimentos gerados com os impostos muitas vezes nos fazem falta, assim devemos exigir que sejam investidos corretamente, para que não sejam jogados fora com funerais estúpidos nem com placas que logo perdem sua utilidade.

            Quero deixar claro que são apenas dois exemplos, se analisarmos em escala geral, veremos uma grandiosa maquina de queimar dinheiro público. E o que é mais importante, muitas vezes não nos preocupamos, por mais que isto esteja acontecendo em nossa cidade e em praticamente quase toda esquina. Devemos ser cidadãos críticos, ou a situação nunca mudará.

INCULTOS USAM COLEIRAS, OS POLÍTICOS SEGURAM A CORRENTE

      A humanidade age de forma errônea, isto é fato. Aceitamos várias formas de dominação sem termos a minima ideia do porque devemos aceitar essas dominações. Sempre falamos em liberdade, porém essa liberdade nos escapa, não há a busca concreta dessa liberdade.

      Podemos dar um exemplo simples dessa dominação em nossa cidade. Por que o homem simples tem uma maneira tão estranha de agir diante de políticos? Geralmente esse homem fica acanhado e de certa forma se humilha frente a um candidato ou político já eleito, tem medo de pedir por melhorias na cidade, achando que está pedindo um favor, e não exigindo por seus direitos.

      O que deve ficar claro é que este homem deve pedir por melhorias publicas e não por favores individuais. Este homem simples não deve reclamar de um político por este não pagar uma conta de água, de luz, ou por não comprar uma cesta básica para ele, mas por este político não dar condições a esse homem simples em conseguir pagar suas próprias contas. Este político deve criar formas para que a vida da população melhore, isto através de empregos. Este político deve gerar melhorias na saúde e na “culturalização” da população, não apenas utilizando o antiquado modelo romano de “pão e circo”* como ocorre normalmente aqui.

      São João do Caiuá se baseia em eventos culturais nem sempre avançados. Se refletirmos sobre a cultura são-joanense, o esporte representa um papel de destaque, porém a diversidade esportiva aqui não existe. Quantos grandes jogadores de tênis, handebol, basquetebol, rugby, entre outros esportes, não possuíram oportunidade de se destacar, ou mesmo em praticar o esporte para o qual foi predestinado a jogar, nesta cidade? Um exemplo claro quanto a isso é o fato de em meados da primeira década do novo milênio, o basquetebol se São João possuir um papel de destaque no Jogos Escolares, ao ponto de o o time representante de nossa cidade participar da fase final nos jogos escolares em Curitiba. Porém hoje esse esporte praticamente acabou em nossa cidade, apenas alguns jovens buscam se divertir com o basquete em finais de semana. O tempo de glória foi curto, graças ao não investimento político para com esse esporte.

      O único esporte que é bem visto aqui, e que realmente recebe incentivos, é o futebol, e este infelizmente não está trazendo grandes resultados, pois times que representam São João, tanto no futsal quanto no futebol de campo, não conseguem ganhar títulos expressivos, porém estes chamam a atenção dos moradores. O time que representa a cidade no regional amador de futebol de campo é formado em sua grande maioria por atletas de outras cidades. Esta formação do “ACAS”, fundamentada em atletas de outras cidades, desagrada boa parte dos aficionados pelo esporte desde há muitos anos, porém não há transformações, não há a montagem do time com base em atletas são-joanenses, alguns ainda tentam montar outros times com atletas daqui, porém não há incentivos para esses. Não é intenção deste texto se adentrar neste assunto, ou seja, comentar sobre o esporte é fundamental para demonstrar duas faces da política são-joanense: a não diversidade em esportes e a política de “pão e circo”, porém não explica o todo por si mesmo.

      Não só o esporte representa a política do “pão e circo”. O clube municipal é outra forma de buscar tranquilidade para os problemas sociais de São João. Não há discussão ou debate quanto a problemas sociais, mas sobre quando haverá festas. A quantidade destas está diretamente ligada a uma parcela da popularidade política. Rodeios são muito apreciados pelos moradores de nossa cidade, o problema é que o lucro obtido com estas festas não é revertido para a economia são-joanense, pois toda a estrutura que do rodeio que para cá vem, são de outros lugares, ou seja, o lucro é revertido para fora de São João.

      Podemos dizer que a população é alienada, acha que todo esse sistema que vigora em nossa cidade não pode ser mudado, e o que é pior, acha que tudo que ocorre é normal. Voltamos ao ponto inicial. Os moradores de São João, e podemos levar para uma escala nacional, tem a consciência de que devem respeito aos políticos porque são esses que fazem o que o município precisa, porém quase não fazem, e quando fazem, fazem com qual verba? Dos deputados? Devemos dar graças aos deputados, que ajudam com renda própria o Brasil todo? Isso é hilario. Quando é que paramos para refletir que a renda que vem para nossa cidade não é paga pelo bolso de um deputado, mas por nós mesmos? Não devemos louvar os políticos por conseguirem verbas para melhorias em nossa cidade, eles não estão prestando um grande favor, mas um dever. Não devemos eleger um grande amigo, mas alguém que faça por todos, pela população em geral. Os políticos não são nossos superiores, mas nossos funcionários. O leitor pode pensar que estou sendo um tanto extremado, porém não há nada de errado no que estou dizendo.

      Por fim, podemos entender que o atraso em São João está marcado em vários aspectos. Este texto tem a intenção de refletir sobre uma pequena parte dos erros graves que aqui ocorrem, mas se pensarmos, iremos achar uma gama enorme de pontos para a maneira onde muitos são subjugados sem a devida necessidade, se é que há necessidade para alguém ser subjugado.

     Nossa cidade possui em sua maioria populacional pessoas simples, elas tem a verdadeira força, infelizmente essa força está adormecida, e poucos mandatários controlam tudo. A cultura nossa ajuda nesse processo, pois como dito antes, louvamos um político por ter feito algo com o nosso próprio dinheiro, isso é antagônico. Muitas vezes damos o nosso voto por camaradagem ou por algum tipo de beneficio imediato, sem lembrar que o mandato dura quatro anos. Geralmente não questionamos se a saúde não está em nível ótimo, pouco nos importamos se não há politicas de combate às drogas, não nos interessamos por vários assuntos que estão diretamente ligados a nós. Estamos mais preocupados com festas.

      A taxa de empregos é baixa e ao invés de reclamarmos por uma maior quantidade e melhor qualidade - pois o que rege a economia de nossa cidade são as usinas, sendo que grande parte dos postos de trabalho dessas podem ser consideradas insalubres - preferimos aceitar o que há, ou ocorre a diminuição de jovens em idade produtiva, pois muitos buscam melhores condições em cidades maiores.

      Estamos caminhando em uma direção inversa à liberdade. Até quando iremos andar nesse caminho errado? Será que nossa cidade não pode mudar?

*Na Roma Antiga os políticos conseguiam controlar a sociedade ao realizarem grandes espetáculos, como os ocorridos no Coliseu, e distribuir pão à população. Daí vem o nome Pão e Circo.

O MAL CULTURAL PAULISTANO E A NOSSA POLÍTICA ATRASADA

            Estamos em uma pequena cidade no interior paranaense. Desde que eu “me conheço por gente” ouço que cidades pequenas são calmas. Recordo-me do meu tempo de infância, onde em dias quentes minha mãe colocava um colchão na área ao lado de fora e ali dormíamos varias horas, com portas e janelas abertas, sem preocupação alguma com roubos.

            Infelizmente esses dias ficaram no passado, nossa cidade não mais é tão pacifica. Estamos nos acostumando a ouvir sobre mortes bizarras e uma variedade de roubos, a violência é algo comum.

            Um grande problema quanto a isso é o nível “cultural”, se é que podemos nos referir dessa forma a inutilidade ideológica que circula por São João do Caiuá. Se moramos em uma cidade interiorana no Paraná, por que grande parte da população se inspira na cultura paulistana? Se essa inspiração se concentrasse em o que há de melhor da cultura paulistana, onde a intelectualidade está em nível altíssimo, ou até mesmo no “espírito trabalhador” que apresenta boa parte dos paulistanos - não que eu diga que nós os paranaenses não gostam de trabalhar - seria de grande utilidade. Infelizmente a inspiração está focada em um lado mais sombrio da cultura paulistana. Infelizmente os nossos jovens estão cada vez mais infiltrados no mundo das drogas, este é um dos péssimos exemplos vindo de São Paulo que transforma a mentalidade desses jovens.

            Enquanto São João recebia grandes carregamentos de “maconha” a situação ainda se apresentava estável, não era tão alarmante. As criticas que os jovens recebiam eram em geral apenas por fazerem uso de drogas, pratica muito contestada, principalmente em uma cidade pequena e com grande população “conservadora”.

            O que difere os dias atuais em relação a esse passado de uso de “maconha”, é o fato da droga ter mudado, a droga que circula em maior quantidade em São João hoje é o “crack”. Essa passou a fazer um grande estrago em nossa cidade, vários jovens perderam a vida por esse perigoso entorpecente. Muitos não chegam a tal fim, porem perderam a sua liberdade, vários sãojoanenses residem hoje em celas no presídio de Alto Paraná.

            Não se pode mais circular tranquilamente pela cidade em noites festivas, a qualquer momento um desses “inspirados na cultura paulistana” pode procurar brigas apenas pelo prazer, geralmente sob o estado dessa droga.

            Qual é o grande fundamento dessa atitude? Por que essa atitude imbecil e idolatrada de cultuar a vida paulistana? São questões que necessitam de grandes reflexões para serem respondidas.

            Um fato merece atenção dos nossos políticos: se nossos jovens estão utilizando essa má parte da cultura paulistana, precisamos de métodos para combater esse mal, e não estou errando em dizer que a cultura paulistana é péssima para nós. Por que não utilizar medidas educativas que funcionam em algumas favelas do Brasil? Por que em São João do Caiuá não se investe em projetos para livrar nossos jovens desse mundo sombrio? Por que os projetos culturais de São João nunca estão presentes na periferia, mas somente na região central da cidade? É necessário algum tipo de investimento para retirar nossos jovens desse mundo sombrio.

            Enquanto boa parte da população se inspira no lixo cultural paulistano, a visão de política continua atrasada, onde o “bom político” é aquele que paga bebidas alcoólicas à população.

            Infelizmente essa é a realidade de São João do Caiuá, os jovens estão cada vez mais inseridos no mundo das drogas, há uma “naturalização” da violência e para nossa tristeza a política não se transforma para combater esse mal. Em vários pontos estamos ainda atrasados, em geral em áreas que necessitamos progredir.

            O que procuro discutir não é uma utopia, São João pode mudar, a nossa política também, não somos obrigados a cultuar ou compactuar esse lixo cultural paulistano.

Estamos acostumados apenas ao material. Para a população de São João uma grande construção ou reformas de ruas, são mais importantes, possuem mais valor do que projetos assistencialistas contra as drogas e a criminalidade. Seria importante cortar o mal pela raiz, retirar os jovens das drogas antes que sejam necessárias internações, pois é desta forma que ocorre o combate contra as drogas em São João, espera-se que o jovem esteja completamente perdido para enfim se tomar atitudes, o problema é que pela influência do meio, esse jovem que foi internado acaba, ao voltar para a cidade, retornando ao mundo sombrio.

Esse pequeno texto tem a função de plantar uma pequena semente na consciência da população de São João do Caiuá, ou na parte que não reflete sobre os problemas sociais e políticos de nossa cidade. Sei que não germinará agora, porem futuramente pode crescer e gerar frutos, se tornando uma das prioridades quanto aos projetos políticos da cidade. Que esses projetos acabem com a violência gerada por essa temida droga que entrou em nossa cidade, que acabem com esse modelo arcaico de política. Devemos agir, buscar por melhorias.